• ADRIANA KASTRUP
  • (ESPECIAL PARA A MARIE CLAIRE)  – 31

Você já reparou que os sapatos têm uma simbologia e uma linguagem própria? Cada povo, cada cultura, a começar pela pavorosa época da escravidão, onde quem era escravizado não tinha permissão de usa-los, o que reforçava a ideia de submissão. Tanto que, a primeira coisa que faziam depois de alforriados, era comprar um par, embora, raros os que conseguiam calçá-los; a maioria deles os deixavam em casa, em algum um lugar à vista, em sinal de orgulho, conquista e libertação. No Japão e na cultura oriental, acreditam que, além da higiene física, retirar os sapatos ao entrar em casa também representa a higiene espiritual. Segundo sua tradição, trazemos impurezas das ruas, das grandes aglomerações, e a nossa casa tem o mesmo valor de um santuário: é um lugar sagrado. Já na Índia, os mais novos beijam os pés dos mais velhos e honram seus sapatos em sinal de respeito à sua trajetória de vida. Os sapatos mostram as histórias das pessoas, por onde andaram, o que fizeram, suas raízes. Numa leitura mais elevada, o ato de despir-se deles evoca e saúda, ao mesmo tempo, a humildade e a entrega.

Trazemos para a semana vindoura o OITO DE PAUS, oitavo arcano do naipe de paus, talvez o mais rápido de todos, que, dentre outras coisas, fala das mudanças ágeis, ora programadas, ora inesperadas. O número oito, assim como os calçados, traz o poder necessário para o crescimento e nos aponta as limitações que precisamos vencer para atingir o objetivo com perfeição. Por sermos responsáveis por nossos atos, obviamente, a ansiedade vem de brinde. Apesar do feriadão no início da semana, os próximos dias serão acelerados e teremos a sensação de que tudo está sendo chamado para ser feito ontem. Aqui, é imprescindível que façamos os movimentos. A hora é de ação, tomada de decisões e movimento. Contudo, você não deve sair por aí como uma desatinada, tomando atitudes por impulso ou impensadas, metendo os pés pelas mãos de forma desordenada. A ação é sinônimo de ritmo; pede atitudes encadeadas e respeitando sua ordem. Termos dias de comunicação fácil, troca-troca de ideias e revelações. Entretanto, nestes dois primeiros dias de novembro, haverá informações pela metade ou histórias que não se fecham por completo. Espere, pois, o meio da semana para tirar suas conclusões. Se for preciso, banque a detetive e vá escarafunchar as coisas. E não se esqueça de chamar aquela sua amiga de escorpião, no mínimo, será divertido.

Assim como falamos de celeridade também falamos de movimentos repentinos. Contatos inusitados, propostas novas que vêm sei lá de onde, convites que nos fazem mudar a direção das coisas, o rumo da nossa prosa ou mesmo uma visita inesperada do cupido. Não duvide de nada tampouco feche os olhos para aqueles mínimos sinais que a vida manda. Quem come mosca quando o universo se mexe e conspira para que as coisas aconteçam não realiza mudança alguma; e creia, a energia cósmica tem excelentes tecelões. Quando cuidamos de nós, boas propostas aparecem do lado de lá. Apesar de alguns contratempos, quem souber ver através da fumaça, estará um passo à frente. Sob este astral, coisas e pessoas (in)certas podem cruzar suas esquinas e tentar dissuadi-la de avançar. Pequenas cascas de banana que, com frequência, encontramos pelo caminho, por isso, não é necessário se assustar, apenas não deixe nada passar pela simples falta de comunicação: seja ela dita, sugerida ou insinuada. Aproveite, pois o impertinente mercúrio já não está mais retrógrado. Contudo, Plutão, o indigente, vai querer colocar uns contra os outros, fazer suas palavras voltarem contra você, soar como um desaforo ou parecerem mais agressivas do que deseja. Vale baixar o tom mesmo não precisando; prudência não faz mal a ninguém.

Outro ponto a considerar será a praticidade nas emoções. Aqui é mais importante valorizar aquele que se levanta as 3 horas da manhã para comprar um analgésico para você do que aquele ser romântico, que recita belas palavras, vez por outra oferece um presente, mas que não levanta sequer uma palha se lhe der trabalho (quiçá as tantas da madrugada)… Talvez uma das grandes sacadas da semana seja descobrir o quê, de fato, está por trás das aparências. Os próximos dias nos pedem cautela com a saúde, pois ainda não está na hora de achar que a pandemia acabou; há, no início da semana, um astralzinho mequetrefe que atiça o contágio. Não vale dar sorte para o azar. Também não estão valorizados os grandes procedimentos estéticos; não é hora de fazer nada que seja muito radical. Tampouco cometer excessos, inclusive a passionalidade. Eles podem lhe custar caro. Em vez disso, escreva e guarde as suas boas ideias e foque naquilo que gostaria que desse certo. A dispersão e o tumulto da semana são insuficientes para te tirar do prumo, embora possa lhe trazer uma indesejada variação de humor. Bom momento para adquirir objetos necessários, mesmo que tenha que gastar um pouco, possivelmente encontrará boas oportunidades.

Noutro dia, observando atentamente uma pista de boliche, descobri que uma das áreas mais importantes é o que eles chamam de “approach”, que é a parte da pista em que você anda, levando a bola até a linha de falta, antes de lança-la. Para um bom desempenho no jogo, o “approach” precisa ser plano, liso e livre de detritos ou obstáculos. Desta forma os sapatos precisam ser especialmente feitos para o jogo, para que o jogador possa escorregar livremente com o seu pé dominante. Da mesma forma flui na vida: nossos sapatos precisam estar de acordo com o caminho e com o caminhar. Numa semana dinâmica use aqueles que te ajudem a correr. Para todos os outros têm os chinelos.

Foto: Site jogarboliche.com.br